Acredito que não seja fácil enfrentares-me. Pelo que aconteceu, por eu ser quem sou e, principalmente, pela forma como me trataste. Sabes que não foste correcto comigo. Não me sinto mal tratada porque não estava iludida. Estava, apenas... encantanda, mas consegui ser sempre racional. Fui meiga quando tive de o ser e sempre te disse as coisas que eu pensava. Fui tua amiga, ajudei-te. Fui sincera contigo. Estive sempre disponível para ti. E continuo a estar sempre aqui para ti. Sempre. Afinal, quem está em falta és tu. E tu sabes disso. É por isso que não falas. É por isso que te dói tanto. Ainda bem que não se passou nada. Sabes que lição tiro daqui? Que eu servi-te para alguma coisa. Servi-te de teste para tu saberes se eras capaz de dar o salto da tua vida. Mas não foste e nunca vais ser capaz. Porque tens um problema para resolver. E é mais grave do que aquilo que tu pensas. E a tua vida vai ser sempre assim... a saltitar. Uma vida de mentiras, sempre em busca da felicidade nos outros. Mas repara, começa em ti. Tens de resolver os teus fantasmas. Eu sei, são muitos anos... um relacionamento muito longo. Um filho pelo meio. Uma casa e outros bens partilhados. Mas o que é que isso faz de ti? O que é que isso faz da tua vida? Uma pessoa mal resolvida e que vive uma fotografia. E eu que quis tanto mudar isso. Eu que me esforcei e lutei para que saltasses. Não consegui. E saí. Saí de mansinho. Derrotada. Mas vou dar-te tempo para te recompores. Sabes, preciso de falar contigo. Quero saber de ti. Mas deste-me uma lição, apenas. Uma experiência. Mais uma... Continuo a pensar em ti. Com carinho, sempre. Sem mágoas e sem ressentimentos. Sabes porquê? Porque não quero apagar a tua imagem, aquela que me deste a vida inteira. Quero guardar-te sempre assim.
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